Se você treina em casa, provavelmente já pensou: “Será que dá mesmo para ganhar massa muscular sem aparelho, sem anilha, sem nada?”. A boa notícia é: dá, sim. E não é conversa motivacional, é fisiologia básica — o músculo não “enxerga” se a carga vem de um halter de 20 kg ou do seu próprio peso, ele responde a esforço, repetição e constância.
A diferença é que, em casa, a gente precisa ser mais criativo: usar ângulos diferentes, controlar o tempo do movimento, chegar mais perto da falha muscular. Este artigo é um guia completo, pensado para quem quer resultados reais com o que tem agora: um espaço na sala, um tapete (ou toalha velha) e o próprio corpo.
Vamos montar juntos 5 treinos práticos, estruturados, que você pode começar ainda hoje.
Antes de tudo: como ganhar massa só com o peso do corpo
Para o treino funcionar de verdade, é importante entender três princípios simples:
- Intensidade
Para construir músculo, o corpo precisa de um “motivo” para ficar mais forte. No treino com peso corporal, isso significa:- fazer mais repetições;
- usar variações mais difíceis do mesmo exercício;
- controlar o movimento (descendo devagar, pausando embaixo, etc.);
- chegar perto da falha muscular (aquele ponto em que você pensa “mais uma e não vai subir”).
- Volume
Volume é basicamente o total de trabalho: séries × repetições.
Com peso corporal, geralmente trabalhamos com faixas de:- 8 a 20 repetições por série, dependendo do seu nível;
- 2 a 4 séries por exercício.
- Progressão
Ganhar músculo não é repetir o mesmo treino para sempre. É tornar as coisas um pouco mais difíceis com o tempo:- aumentar repetições;
- aumentar séries;
- diminuir o descanso;
- mudar para uma variação mais desafiadora.
Tendo isso em mente, vamos aos treinos.
Treino 1 – Corpo todo para iniciantes
Ideal para quem está começando ou voltando depois de um tempo parado. O objetivo é acordar os músculos, aprender a postura e criar o hábito.
Frequência: 2 a 3 vezes por semana
Descanso entre séries: 60–90 segundos
Aquecimento (5 minutos)
- 30 segundos de polichinelo leve ou marcha no lugar
- 30 segundos de rotação de ombros (para frente e para trás)
- 30 segundos de agachamento sem carga, bem suave
- 30 segundos de mobilidade de quadril (abrindo e fechando as pernas, em pé)
- Repita essa sequência 2x
Circuito de exercícios
Faça todos os exercícios em sequência, descanse 1–2 minutos e repita o circuito de 2 a 3 vezes.
- Agachamento livre
- Séries: 2–3
- Repetições: 10–15
- Dica: empurre o chão com os pés, mantenha o peito aberto e o olhar à frente. Desça até onde conseguir sem sentir dor no joelho.
- Flexão de braço adaptada (na parede ou com os joelhos apoiados)
- Séries: 2–3
- Repetições: 8–12
- Dica: corpo alinhado, abdômen firme. Se estiver muito fácil na parede, aproxime os pés da parede ou migre para a flexão com joelhos no chão.
- Remada invertida na mesa (se for segura) ou puxada com toalha na porta
- Séries: 2–3
- Repetições: 8–12
- Dica: pense em “levar o peito” em direção à borda da mesa, não o pescoço. Se não se sente seguro com a mesa, use uma toalha presa firmemente e faça o movimento puxando o corpo levemente, com menos amplitude.
- Elevação de quadril (ponte de glúteo) no chão
- Séries: 2–3
- Repetições: 12–15
- Dica: pés apoiados no chão, joelhos dobrados. Suba o quadril apertando os glúteos e segurando 1 segundo no topo.
- Prancha isométrica (cotovelos no chão)
- Séries: 2–3
- Tempo: 15–30 segundos
- Dica: não deixe o quadril cair. Pense em formar uma linha reta dos ombros aos calcanhares.
Se, ao fim do treino, você sente que “poderia ter feito muito mais”, ótimo: na próxima sessão, aumente 1 série ou algumas repetições.
Treino 2 – Peito, ombros e tríceps (empurrar)
Agora vamos focar em músculos de empurrar: peito, tríceps e parte do ombro. Esse é o “dia de empurrar” da sua semana.
Frequência: 1 a 2 vezes por semana
Descanso entre séries: 60–90 segundos
Exercícios
- Flexão de braço tradicional (mãos no chão)
- Séries: 3–4
- Repetições: 6–15 (conforme seu nível)
- Dica de técnica:
- mãos um pouco mais abertas que os ombros;
- cotovelos em diagonal, não totalmente abertos para os lados;
- desça em 3 segundos, suba em 1 segundo.
- Flexão diamante (para tríceps)
- Séries: 2–3
- Repetições: 6–12
- Como fazer:
- junte as mãos em formato de losango abaixo do peito;
- desça devagar, mantendo o cotovelo perto do corpo.
- Flexão com elevação de quadril (pike push-up) – foco em ombro
- Séries: 2–3
- Repetições: 6–10
- Dica:
- forma um “V” invertido com o corpo;
- cabeça apontando para o chão;
- desça levando o topo da cabeça em direção ao chão.
- Tríceps no banco ou cadeira (mergulho)
- Séries: 2–3
- Repetições: 8–12
- Dica:
- mãos apoiadas na beirada da cadeira, pernas flexionadas;
- desça controlando, sem “despencar”;
- evite forçar demais se tiver histórico de dor no ombro.
- Prancha lateral (para estabilizar cintura escapular e core)
- Séries: 2 por lado
- Tempo: 20–30 segundos
- Dica: mantenha o corpo em linha reta, sem deixar o quadril cair.
Treino 3 – Costas e bíceps (puxar)
Treinar costas em casa é o ponto que mais causa dúvida. Mas com algumas adaptações, dá para trabalhar muito bem dorsais, trapézio e bíceps.
Frequência: 1 a 2 vezes por semana
Descanso entre séries: 60–90 segundos
Exercícios
- Remada invertida na mesa (ou barra fixa, se tiver)
- Séries: 3–4
- Repetições: 6–12
- Dica: quanto mais horizontal o corpo, mais difícil. Se puxar com as pernas mais dobradas, fica mais fácil.
- Puxada com toalha na porta (isométrica + dinâmica)
- Séries: 3
- Repetições: 10–15 “meias puxadas”
- Como fazer:
- enrole uma toalha forte na maçaneta (certifique-se que a porta está bem fechada e firme);
- incline um pouco o corpo para trás;
- puxe o corpo para frente, como se estivesse remando.
- Superman no chão (para lombar e parte alta das costas)
- Séries: 3
- Repetições: 10–15
- Dica: deite de barriga para baixo, braços à frente; eleve braços e pernas ao mesmo tempo, segure 1–2 segundos e desça devagar.
- Bíceps com isometria de toalha
- Séries: 3
- Tempo: 20–30 segundos de contração
- Como fazer:
- sente-se, passe uma toalha sob o pé;
- segure as pontas com as mãos;
- tente “flexionar o cotovelo” puxando a toalha, enquanto empurra o pé para baixo, gerando resistência.
- Prancha com apoio alternado
- Séries: 2–3
- Tempo: 20–30 segundos
- Dica: em posição de prancha alta (tipo flexão), tire uma mão do chão de cada vez e toque o ombro oposto, sem deixar o quadril balançar demais.
Treino 4 – Pernas e glúteos
Aqui é onde muita gente descobre que não precisava de leg press para ter pernas fortes. Agachamentos, avanços e variações de apoio unilateral resolvem boa parte do problema.
Frequência: 1 a 2 vezes por semana
Descanso entre séries: 60–90 segundos
Exercícios
- Agachamento livre ou agachamento búlgaro (avançado)
- Séries: 3–4
- Repetições:
- iniciante: 12–15 agachamentos livres;
- intermediário/avançado: 8–12 agachamentos búlgaros por perna (um pé apoiado em cadeira atrás).
- Dica: mantenha o joelho alinhado com o pé, sem “cair” para dentro.
- Afundo (avanço) alternado
- Séries: 3
- Repetições: 10–12 por perna
- Dica: dê um passo longo, desça com controle e mantenha o tronco levemente inclinado à frente, mas sem arredondar a coluna.
- Elevação de quadril unilateral (ponte de glúteo com uma perna)
- Séries: 3
- Repetições: 10–15 por perna
- Dica: uma perna estendida, outra apoiada no chão. Suba o quadril apertando bem o glúteo da perna de apoio.
- Panturrilha em pé
- Séries: 3–4
- Repetições: 15–20
- Dica: suba na ponta do pé, segure 1 segundo em cima e desça bem devagar.
- Agachamento isométrico na parede (cadeira invisível)
- Séries: 2–3
- Tempo: 20–40 segundos
- Dica: costas apoiadas na parede, joelhos a 90 graus, como se estivesse sentado em uma cadeira imaginária.
Esse treino costuma ser intenso. Se terminar tremendo, é sinal de que os músculos entenderam o recado.
Treino 5 – Corpo inteiro avançado (força + condicionamento)
Esse é para quem já tem alguma experiência, não sente dor nas articulações e consegue fazer bem a maioria dos exercícios anteriores. Ele mistura força e condicionamento, deixando o treino mais desafiador e “pesado” metabolicamente.
Frequência: 1–2 vezes por semana (não em dias seguidos)
Descanso entre séries: 30–60 segundos entre exercícios, 2 minutos entre voltas
Formato
Você vai montar um circuito com 5 exercícios e repetir de 3 a 5 voltas.
- Flexão de braço com pés elevados
- Repetições: 8–12
- Agachamento búlgaro
- Repetições: 8–12 por perna
- Remada invertida (versão mais difícil possível para você)
- Repetições: 8–12
- Burpee controlado (sem pular alto, se tiver problema de joelho)
- Repetições: 6–10
- Dica: mantenha a técnica. Não é corrida, é controle.
- Prancha com toque no ombro
- Tempo: 30–40 segundos
Faça todos os exercícios em sequência, descanse 2 minutos e repita. Se no final da terceira volta você ainda estiver “conversando”, tente uma quarta ou quinta volta nas próximas sessões.
Como organizar esses 5 treinos na semana
Você não precisa fazer tudo ao mesmo tempo. Aqui vão alguns exemplos de organização:
Opção 1 – 3 vezes por semana (iniciante)
- Segunda: Treino 1 (corpo todo)
- Quarta: Treino 1 (corpo todo)
- Sexta: Treino 1 (corpo todo)
Quando ficar fácil, troque o Treino 1 por uma combinação:
- Segunda: Treino 2 (empurrar)
- Quarta: Treino 3 (puxar)
- Sexta: Treino 4 (pernas)
Opção 2 – 4 vezes por semana (intermediário)
- Segunda: Treino 2 (empurrar)
- Terça: Treino 4 (pernas)
- Quinta: Treino 3 (puxar)
- Sexta: Treino 5 (corpo inteiro avançado)
Quarta, sábado e domingo podem ser dias de caminhada leve, alongamento ou descanso total.
Nutrição básica para ganhar massa em casa
Treinar é metade da equação. Para ganhar massa muscular, você precisa dar matéria-prima para o corpo construir esse músculo.
1. Comer um pouco mais do que gasta
Para hipertrofia, em geral, é preciso um leve superávit calórico: comer um pouco mais de energia do que você gasta. Não precisa virar refém da balança de cozinha, mas algumas atitudes ajudam:
- acrescente uma fonte de carboidrato em uma refeição onde você comia pouco (arroz, batata, mandioca, aveia etc.);
- não “fuja” de gorduras boas (azeite, castanhas, ovos);
- não pule refeições o tempo todo.
2. Proteína em todas as refeições
Músculo é tecido proteico. Se o objetivo é construir, não adianta treinar bem e comer proteína só no jantar.
Tente incluir fontes como:
- ovos;
- frango, carne, peixe;
- feijão, lentilha, grão-de-bico;
- iogurte natural, queijos magros;
- tofu, soja e afins.
Uma regra prática: em todas as refeições principais, pergunte-se “onde está minha proteína?”.
3. Hidratação e sono
Dois pontos que parecem “detalhes”, mas fazem diferença enorme:
- Água: treinar desidratado reduz força, disposição e recuperação;
- Sono: é dormindo que o corpo reconstrói o músculo. Queira ou não, aquele “crescimento” acontece longe do tapete de treino.
Se você está sempre cansado, dormindo mal e vivendo à base de café, não é o treino que está te sabotando – é a rotina.
Como saber se está funcionando
Ganhar massa não é como ligar um interruptor. Os sinais são sutis no começo, mas aparecem:
- os exercícios que pareciam impossíveis ficam mais fáceis;
- você aumenta repetições, séries ou passa para variações mais difíceis;
- roupas começam a ajustar diferente, principalmente em ombros, braços e pernas;
- você sente mais firmeza para subir escadas, carregar peso, levantar do chão.
Uma boa prática é anotar os treinos:
data, exercícios, séries, repetições, como se sentiu. Isso transforma o processo em algo concreto e mostra sua evolução com o tempo.
Erros comuns que atrapalham seus resultados
Mesmo com um bom treino, alguns deslizes podem sabotar o ganho de massa:
- Treinar sem esforço real
Se você sempre termina as séries com a sensação de que faria mais 10 repetições fácil, provavelmente a intensidade está baixa demais. - Mudar de treino toda semana
A constância é mais importante do que a “novidade”. Dê pelo menos 4–6 semanas para um plano antes de julgá-lo. - Copiar influenciador avançado
Muita gente tenta reproduzir treinos de atletas ou praticantes avançados e só colhe frustração, dor e cansaço. Comece no seu nível. - Negligenciar aquecimento e técnica
Não é porque está treinando em casa que virou bagunça. Aquecer e fazer o movimento corretamente protege articulações e melhora o resultado. - Tentar “compensar” má alimentação com mais treino
Treinar mais não conserta falta de proteína, poucas calorias ou sono ruim. Às vezes o melhor ajuste não está no treino, e sim na cozinha e na rotina.
Um último recado
Montar um corpo mais forte, saudável e funcional em casa não é fantasia de propaganda. Não é rápido, não é mágico e não é sempre confortável — mas é completamente possível.
Você não precisa de aparelhos de última geração. Precisa de:
- um espaço mínimo;
- um plano que faça sentido;
- vontade de aparecer para si mesmo nos dias em que ninguém está olhando.
Comece com o treino que fizer mais sentido para o seu nível hoje. Faça anotações, respeite seu corpo, ajuste o que for necessário. Em alguns meses, quando olhar para trás e perceber que aqueles 5 treinos em casa se transformaram em um hábito sólido, a pergunta deixa de ser “será que funciona?” e vira outra: “por que eu não comecei antes?”.
Se quiser, no próximo passo posso te ajudar a transformar esses treinos em um calendário semanal personalizado, considerando quantos dias você pode treinar e quanto tempo tem por sessão.
